Ainda não sabemos como será nosso cotidiano pós-pandemia, mas uma coisa é apontada como certa: durante um bom tempo nossa vida (incluindo trabalho, lazer e rotina social) acontecerá dentro de casa. Até aqui, os meses em confinamento e restrição de viagens e passeios já mostraram os efeitos disso no nosso comportamento (como mais ansiedade e menos energia) e acionaram o gatilho para a adoção de novos hábitos principalmente por quem mora em áreas urbanas: sedentas por mais contato com a natureza, cada vez mais pessoas estão cultivando plantas em casa, criando oportunidades para escapadas da cidade e mesmo se mudando para o campo, a praia ou a montanha.
Estar em contato com a natureza, ainda que seja caminhando em um parque ou praça arborizada ou fazendo uma trilha no fim de semana, produz diversos benefícios para a saúde e o bem-estar, como vários trabalhos científicos já demonstraram. Uma revisão de estudos publicada no periódico Frontiers in Psychology, por exemplo, cita a composição do ar, a temperatura, os sons e os cheiros da mata e até determinados compostos orgânicos liberados pelas plantas como agentes que influenciam a saúde. “Ambientes naturais reduzem a atividade autonômica do organismo, o que está ligado a mais relaxamento, menos stress e inflamação e, com isso, menos risco de desenvolver doenças físicas, como as respiratórias e cardiovasculares, e emocionais, como depressão”, fala a médica Indianara Brandão, de São Paulo, entusiasta da medicina integrativa. Mas o melhor é que essa interação seja regular, e não apenas esporádica.
No Japão, a prática de se embrenhar em áreas verdes e passar algum tempo todo dia contemplando a paisagem, os ruídos e as sensações despertadas em ambientes naturais tem nome – shinrin-yoku, algo como banho de floresta – e é reconhecida pelo governo por seus efeitos terapêuticos. Trabalhos realizados por cientistas daquele país demonstraram que esse mergulho na natureza é capaz de reduzir a pressão arterial e a frequência cardíaca e aumentar a atividade das células NK (natural killers), que defendem o organismo do ataque de vírus e células tumorais.
Práticas de conexão com a natureza são parte chave dos retiros e jornadas de autoconhecimento conduzidos pela psicóloga e professora de ioga Lilly Hastings (@lilly.hastings). “A natureza tem o poder de sugar nossas emoções negativas e tudo o que nos faz sentir pesadas. É por isso que andar descalça na grama ou na areia ou tomar um banho de mar ou cachoeira, por exemplo, energiza o corpo ao mesmo tempo em que relaxa a mente”, diz.
Boa notícia para quem não tem como trocar a cidade pelo mato nem pode contar com uma área verde por perto: apenas olhar imagens de paisagens tem efeito relaxante – pense em um papel de parede temático e fotos de cenários naturais no seu canto de trabalho, por que não? Cultivar uma urban jungle ou uma horta é uma alternativa, claro. E escutar sons da natureza, como aquelas gravações de barulhinho de chuva caindo, ondas quebrando e vento batendo nas folhas também funciona – um estudo no periódico britânico Scientific Reports monitorou a atividade cerebral, a respiração e os batimentos cardíacos de adultos e descobriu que a exposição a esses sons altera conexões cerebrais reduzindo nosso instinto de ficar alerta, como que preparadas para uma ameaça, como é típico em situações de stress.
“Reservar um tempo para se acalmar, fechar os olhos e se imaginar em seu cenário preferido pode ter efeito relaxante porque o cérebro entende que você está mesmo nesse lugar. É uma válvula de escape para quem não está saindo de casa”, acrescenta Lilly. Ela ensina mais estratégias para se integrar com a natureza no confinamento. “Vale criar um altar com itens que representem os elementos da natureza (uma planta, uma vela, uma pedra, uma pena ou incenso e um recipiente com água), brincar com pets, mexer com a terra e até contemplar o nascer ou pôr do sol”, diz. “Somos parte da natureza. Quando buscamos recursos externos para nos integrar com ela, nos conectamos conosco e encontramos paz”, finaliza.